A catarinense Márcia Narloch, campeã pan-americana em Santo Domingo, conquistou neste domingo pela manhã o tricampeonato da Maratona de São Paulo. Se não bastasse a façanha de ser a primeira tricampeã da prova (venceu também em 1999 e 2000), Márcia ganhou também o inédito desafio homem x mulher, completando os 42.195 metros da prova em 2h40min39, em frente ao Obelisco do Ibirapuera. Com um handicap de 23 minutos para homens, baseado na diferença histórica entre as duas categorias, o piauiense José Telles de Souza, ganhador da prova masculina, ficou em segundo lugar na classificação geral, com 2h19min47.
Sem o forte calor que fez nos últimos dias na capital paulista, os atletas puderam fazer uma prova mais tranqüila. Na largada da competição feminina, às 8h37, os termômetros registravam 22,9º, enquanto no tiro de partida do masculino, às 9 horas, a temperatura estava em 23,5º. Na chegada, por volta das 11h20, os atletas, além do cansaço, enfrentaram um calor de 27º e umidade relativa do ar de 70%.
Márcia comemorou bastante a vitória sobre os homens. “Só pensei nessa disputa depois do quilômetro 40, mas foi uma motivação a mais”, admitiu a corredora, de 36 anos, que levou um prêmio de R$ 24 mil para casa, além de duas passagens São Paulo Nova York São Paulo. “O índice de 23 minutos foi preciso, tanto que o Telles chegou na Sirlene (a segunda colocada no feminino) no final. Se os homens tivessem apertado mais, a disputa teria sido comigo.”
José Telles tentou, mas não conseguiu alcançar a tricampeã. “Foi engraçado tentar chegar nas mulheres. Foi a primeira vez que corri atrás delas, mas tinha uma baixinha lá na frente que não deu para pegar”, brincou o piauiense de 32 anos, que conseguiu o resultado mais expressivo de sua carreira neste domingo.
Aliás, Telles foi o responsável por um dos momentos de maior vibração do público que esteve no Ibirapuera. Ao contrário de Márcia que correu sempre à frente, ele só assumiu a liderança no último quilômetro quando ultrapassou o queniano Benjamin Kiptarus, segundo colocado. Pelo telão montado ao lado da linha de chegada, os torcedores puderam acompanhar e comemorar bastante a vitória do brasileiro.
Trabalho de recuperação - O incentivo do público foi muito importante, principalmente nos últimos metros da prova, segundo Márcia. “Adoro correr em São Paulo. As pessoas são ótimas, o percurso é bom e eu sempre dou muita sorte”, afirmou. “Queria fazer abaixo de 2h40, mas como corri muito sozinha, preferi administrar. Se forçasse, corria o risco de não agüentar.”
Depois de muito tempo parada, por causa de uma lesão sofrida na Olimpíada de Atenas, em agosto, a vitória foi uma coroação para o trabalho de recuperação da maratonista. “Antes da prova, a expectativa era muito grande. Muito tempo sem correr deixa você apreensiva. Mas consegui acompanhar o ritmo da maratona, que é rápida na primeira metade e dura na segunda, e abri uma vantagem muito boa no final”, lembrou. “Sofri um pouco a partir do quilômetro 30, quando comecei a sentir muita sede, mas maratona é sofrimento mesmo.”
Ex-operador de empilhadeiras, Telles realizou um sonho ao vencer em São Paulo. “É a minha conquista mais importante. Estava esperando por uma vitória e ela tinha de vir em São Paulo”, afirmou o atleta, que também ganhou passagens São Paulo Nova York São Paulo e mais R$ 21 mil. “Só acreditei que dava para passar o queniano no finalzinho mesmo. Não sei se eu aumentei o ritmo ou ele diminuiu, mas quando ultrapassei, vi que tinha ganhado. Em maratona, se você vem de trás no final e ganha a posição, não dá para recuperar.”
Já a ex-empregada doméstica Sirlene Souza Pinho, segunda colocada entre as mulheres e terceira no geral, estreou em maratonas justamente na prova paulista. “Nunca mais corro essa prova. É sofrimento demais”, comentou a atleta de 29 anos. “No quilômetro 36, comecei a me sentir mal e fiquei sem perna. Quando o Telles chegou, não consegui acompanhá-lo.”
Homenagem - O herói olímpico Vanderlei Cordeiro Lima deu o tiro de largada, recebeu Márcia Narloch e José Telles na chegada e ainda premiou o campeão masculino. “Acho que virei celebridade”, falou, rindo, o paranaense de 35 anos. “É a coroação do trabalho de toda a vida. E aparecer em eventos como esse, ver a receptividade das pessoas, é muito legal. Contribui para enriquecer o esporte”, afirmou o corredor, medalha de bronze na Olimpíada de Atenas.
Vanderlei fez, na verdade, uma maratona paralela, tamanho o número de pedidos de autógrafos e de fotografias em toda a área de largada e chegada da competição. Até o campeão da prova masculina ficou comovido. “Sempre quis vencer em São Paulo e receber o troféu do Vanderlei é uma honra”, disse o corredor, que havia conseguido dois quintos lugares na prova.
Classificação do masculino
1. José Telles de Souza (BRA) 2h19min47s
2. Benjamin Somoei Kiptarus (QUE) 2h20min06s
3. Sidni Oliveira Rocha (BRA) 2h23min46s
4. Alex Januário (BRA) 2h23min48s
5. Dominic Kipkemboi Lagat (QUE) 2h24min05s
6. Geovane Jesus dos Santos (BRA) 2h24min59s
7. Sebastião de Oliveira Silva (BRA) 2h25min06s
8. Paulo da Silva (BRA) 2h25min39s
9. Marco Antônio Pereira (BRA) 2h25min52s
10. Márcio Melquiades (BRA) 2h26min39s
Classificação do feminino
1. Márcia Narloch (BRA) 2h40min39s
2. Sirlene Souza Pinho (BRA) 2h42min35s
3. Rosa Jussara Barbosa (BRA) 2h45min10s
4. Ilaine Wandscheer (BRA) 2h48min06s
5. Marily dos Santos (BRA) 2h49min46s
6. Susan Jepketer Kiprotich (QUE) 2h56min39s
7. Conceição de Maria Carvalho (BRA) 2h58min48s
8. Raimunda Brito da Fonseca (BRA) 3h01min56s
9. Jennifer Titika (QUE) 3h02min13s
10. Andriléia do Carmo de Souza (BRA) 3h03min18s
Confira abaixo algumas fotos do evento :
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